Muitas vezes, a avaliação acaba se tornando ponto de estrangulamento para as organizações do terceiro setor. Elas têm que se submeter às diferentes exigências dos seus financiadores e, o pior ainda, aos padrões de excelência (do tipo gold standard) que não se coadunam com a realidade dos projetos sociais e das próprias organizações.
A principal razão é que o terceiro setor (ou o setor social) é constituído por organizações muito diferentes entre si, em termos de tamanho, recursos, áreas de atuação, objetivos e níveis de maturação dos seus projetos.
A esse respeito, recomendo a leitura do post da Erica Bertolotto no blog da New Philanthropy Capital (NPC). Sucinto e denso, resume alguns aspectos centrais da avaliação de projetos sociais, fruto da experiência do longo trabalho da NPC com o terceiro setor – e com os quais eu concordo plenamente.
Primeiro, se a organização está implementando um modelo de projeto social que já foi exaustivamente pesquisado (pelos acadêmicos) e já se sabe ser uma estratégia efetiva, não é preciso mais medir o impacto social dele. Ou seja, à semelhança de um experimento de laboratório, comparar os resultados entre grupos com projeto e grupos sem projetos implica em testes onerosos e, de antemão, desnecessários, uma vez que a sua efetividade já foi devidamente comprovada.
Segundo, e como decorrência do aspecto anterior, se já se conhece que um determinado modelo de projeto social é efetivo, a garantia dos seus resultados junto ao seu público beneficiário fica na dependência da forma como se dá a execução do projeto. Se a execução for boa, a efetividade está garantida; se a execução for ruim, o projeto não surte os efeitos esperados. Daí, o porquê de se tornar fundamental ouvir, de forma criteriosa, os beneficiários do projeto e a equipe implementadora. É uma maneira direta de conhecer os resultados específicos daquela ação social, entender o seu modo de operacionalização e como as atuações/atividades podem ser melhoradas.
Terceiro, normalmente nas organizações do terceiro setor os recursos (humanos e financeiros) são escassos. A avaliação deve priorizar a coleta de informações que, de modo direto, vão ser úteis para embasar a oferta dos serviços sociais, os chamados registros administrativos. Como, por exemplo, formar o cadastro de acompanhamento dos usuários do projeto.
Muitas vezes, nem é preciso coletar mais dados – pois as informações necessárias já são levantadas pelo projeto, e cabe apenas sistematizá-las para poderem ser analisadas. Ademais, se a avaliação é percebida como sendo útil para o projeto, tanto os beneficiários como a equipe vão se comprometer com ela.
Quarto e último ponto, não faz sentido cada financiador impor às organizações as suas próprias exigências de avaliação, o que vem ocorrendo de forma crescente no setor social. Com isso, a avaliação acaba sendo erroneamente percebida pelas organizações como mero pré-requisito burocrático a ser cumprido para obter financiamento.
Não se pode esquecer que o papel central da avaliação é atender às necessidades de informação da própria organização, de modo a poderem orientar a condução dos seus projetos sociais com a maior efetividade possível. Assim, as exigências dos diferentes financiadores por prestação de contas é que deveriam se submeter ao sistema de avaliação que a organização já adota – e, se for o caso, pode ser aprimorado. A organização deveria ter um sistema único (e integrado) de avaliação dos seus projetos sociais, com diferentes saídas (ou relatórios) para os seus diferentes financiadores.
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Planejamento e Avaliação de Projetos Sociais no Terceiro Setor.
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