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Guia definitivo de captação com empresas

1 de setembro de 2022

Este conteúdo foi produzido por Daiany França

“Como captar com empresas?” é um dos assuntos mais pedidos por quem acompanha o Portal do Impacto, por isso preparei este guia com informações essenciais para você obter sucesso com essa fonte de captação. Como gosto de falar, é ouro em forma de conteúdo.


Alerta! Recomendo paciência e disciplina para acompanhar os textos, acessar os links e o material complementar e colocar tudo o que vai aprender com o nosso Portal em prática, não tenho dúvidas de que a sua organização vai captar muito mais recursos daqui para frente.


Como vai funcionar?


Este não é um conteúdo como os outros daqui do Portal; é um pouco mais longo. Dito isso:


  1. O texto está dividido em partes, que são, na verdade, estratégias de captação de recursos com empresas;
  2. No decorrer dos textos, indicarei conteúdos complementares (basta clicar nos textos com hiperlink);
  3. Ao final de cada tópico, darei algumas dicas práticas, considerando minha experiência com captação de recursos e estudos sobre o tema.


Vamos começar?


1- LEIS DE INCENTIVO FISCAL


Caracterizam-se como um mecanismo de renúncia fiscal criado pelos governos municipais, estaduais e federal.


Mas isso não explica muito, eu sei. Primeiro é preciso entender o que é renúncia fiscal. 

Como explica o escritório Martinelli Advogados, renúncia fiscal é uma forma de desoneração tributária que pode ser feita de três formas diferentes: por meio de incentivos fiscais, de isenção fiscal ou de imunidade fiscal, sendo os incentivos a principal delas.


Já falamos sobre imunidade e a isenção de tributos (impostos, taxas e contribuições) para as organizações do terceiro setor
aqui.


Ainda segundo o mesmo escritório de advocacia, as leis de incentivo fiscal permitem que os contribuintes – pessoas físicas (PF) ou jurídicas (PJ) – direcionem, via doação ou patrocínio, parte dos impostos que pagariam ao órgão fiscalizador para fundos de políticas públicas, programas e projetos sociais nas áreas da saúde, assistência social, cultura, esporte e educação. Os incentivos fiscais podem ser instituídos nos três níveis de governo: Federal (IRPJ/CSLL), Estadual (ICMS) e Municipal (ISS/IPTU).


Na prática, funciona assim:

Essa jornada varia de lei para lei. Dentro de cada etapa, há muitos pontos que requerem atenção e tarefas para executar, mas o mais importante é saber que o dinheiro não vem diretamente dos governos. O que acontece, na verdade, é que eles abrem mão de receber uma parte dos impostos devidos. São as pessoas jurídicas (e pessoas físicas) que decidem para qual projeto vão reverter parte do dinheiro que elas deveriam fornecer ao governo como pagamento de impostos – a tal da renúncia fiscal. Ou seja, a captação de recursos acontece de fato com as empresas.


Por onde começar?
Conhecendo as leis.


Entre as leis de incentivo fiscal mais conhecidas, destaco três:


1.1 LEI DE INCENTIVO À CULTURA - Lei nº 8.313/1991

Qualquer pessoa física que tenha imposto de renda a declarar ou empresa tributada pelo lucro real pode financiar projetos culturais utilizando o mecanismo da Lei de Incentivo à Cultura, sendo que as pessoas físicas podem direcionar 6% do imposto devido; e as jurídicas, 4% (tratam-se de empresas enquadradas no artigo 14 da Lei nº 9.718/98).


O site da Lei é bastante didático e explica o caminho do incentivo, que se assemelha muito aos caminhos das demais leis de incentivo fiscal.


Para aprender a escrever um projeto para a Lei de Incentivo à Cultura, sugiro
esse treinamento do Instituto Cultural Vale, com 5 aulas online que vão desde compreensão da lei até a prestação de contas de um projeto. Clique aqui para assistir às aulas.


1.2 LEI DE INCENTIVO AO ESPORTE (LIE) – Lei 11.438/2006

Pessoas físicas podem deduzir até 7% do Imposto de Renda devido; e pessoas jurídicas tributadas com base no lucro real, até 2% do Imposto de Renda devido.


Sobre esse assunto, indico o trabalho da
Comunidade de Líderes Esportivos, que ensina o passo a passo sobre como aprovar projetos e captar recursos, de modo a aproveitar os benefícios da lei.


→ 1.3 FUNDOS DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE


Os Fundos da Criança e do Adolescente (FDCA) visam financiar projetos que garantam os direitos da criança e do adolescente. Foi criado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) – Lei 8069/90.


No artigo 260 do ECA, encontramos as seguintes regras:

Art. 260.  Os contribuintes poderão efetuar doações aos Fundos dos Direitos da Criança e do Adolescente nacional, distrital, estaduais ou municipais, devidamente comprovadas, sendo essas integralmente deduzidas do imposto de renda, obedecidos os seguintes limites: 


I- 1% (um por cento) do imposto sobre a renda devido apurado pelas pessoas jurídicas tributadas com base no lucro real; e

II - 6% (seis por cento) do imposto sobre a renda apurado pelas pessoas físicas na Declaração de Ajuste Anual, observado o disposto no art. 22 da Lei n o 9.532, de 10 de dezembro de 1997.


Os Fundos são mecanismos muito semelhantes às Leis de Incentivo à Cultura e ao Esporte, mas eles representam um caso à parte porque carregam muitas particularidades. Para compreendê-los, recomendo a leitura da cartilha “
Orientações sobre Fundos dos Direitos da Criança e do Adolescente”, do Conselho Nacional do Ministério Público.


Há outras leis que devem ser levadas em conta, como o
Fundo Nacional do Idoso, instituído pela Lei 12.213/2010, o Programa Nacional de Apoio à Atenção da Saúde da Pessoa com Deficiência (PRONAS/PCD) e o Programa Nacional de Apoio à Atenção Oncológica (PRONON).


Importante!


É possível fazer uma combinação de porcentagens entre as diferentes leis
. A empresa pode somar diferentes porcentagens de direcionamento, desde que disponha de imposto suficiente para doar e desde que não ultrapasse, nos incentivos federais, o somatório total de 6% no exercício. Por exemplo: 4% via Lei Rouanet, 1% via Lei Federal de Incentivo ao Esporte e 1% via Pronon ou 1% via Pronas/PCD (Cartilha sobre uso de incentivos fiscais).


Leis de incentivo são, de longe, a maneira preferida das empresas de patrocinar projetos sociais e culturais.


Muitos estados e municípios têm suas próprias leis de incentivo. Não sabe quais as leis de incentivo vigentes no seu estado ou município? Comece pesquisando nos sites da assembleia legislativa, câmara municipal, secretarias de governo e conselhos dos direitos da criança e do adolescente. Encontrou uma lei? Estude-a e comece a se preparar para apresentar projetos o quanto antes. Da apresentação do projeto até a captação e permissão para iniciar sua execução, pode levar mais de um ano. Isso quer dizer que captar por meio de leis de incentivo fiscal não é uma estratégia rápida. 


Dicas!


Leis de incentivo podem ser mecanismos para a sua organização, sim!
Em 2021, a organização que fundei em 2014 captou mais de um milhão de reais só com leis de incentivo ao esporte, tanto estaduais como federais. Em alguns estados ou municípios, poderá acontecer de as empresas não conhecerem as leis e seus benefícios – isso é mais frequente do que você imagina! –, então você pode fazer, se quiser, um trabalho prévio de informação e sensibilização do seu grupo empresarial alvo.


Leia também:
Como qualquer ONG pode usar o abatimento de impostos para atrair doadores.


2- EDITAIS


Já falei
aqui que Tá chovendo edital! 


Nesse mesmo texto, ainda atual, comento sobre uma pesquisa do Prosas acerca de editais, realizada em 2019 e publicada em 2020, que avaliou 1.675 editais com foco nas áreas social, cultural e criativa, sendo 82,6% deles nacionais. Os resultados demonstraram que o valor mobilizado no período foi de pelo menos R$1,282 bilhão, o que não representa o valor total, uma vez que somente 628 editais divulgaram o montante total a ser investido. Em termos quantitativos, a maior parte dos editais foi realizada por órgãos governamentais — que também representam o maior montante investido —, seguido, com certa distância, por
empresas e institutos empresariais e órgãos internacionais.


Dicas!


Muitas empresas têm optado pelo combo Leis de incentivo + Edital
. Isso quer dizer que, primeiro, você vai aprovar um projeto via lei de incentivo (de esporte, cultura, para crianças e adolescentes, para idosos ou pessoas com deficiência) e, depois, vai adaptar/cadastrar esse mesmo projeto no edital lançado pela empresa, instituto ou fundação empresarial. Em muitos casos, se você não tiver um projeto aprovado na lei de incentivo, não poderá concorrer aos recursos do edital. Ainda é possível encontrar editais “isolados”,  mas essa possibilidade tem sido cada vez mais difícil.


Outro ponto de destaque é que muitas vezes o edital pode ser a porta de entrada para um
relacionamento mais sério e duradouro com a empresa. No texto Pirâmide da captação de recursos, explico como pode funcionar essa jornada.


Onde encontrar editais?
Gosto de acompanhar o Prosas, a newsletter da ABCR (Associação Brasileira de Captadores de Recursos) e alguns grupos de WhatsApp e Facebook. Mas, antes de sair se cadastrando em listas de e-mails e entrando em grupos, é interessante que você saiba qual será o seu foco em relação à captação com editais. Vai captar via editais nacionais e/ou internacionais? Qual sua área de interesse: saúde, esporte, cultura, pesquisa…? Vale tudo: editais públicos e privados? Sua OSC está apta para os editais de projetos incentivados? Essas são algumas perguntas que você deve responder antes de avançar nessa estratégia, pois a depender das respostas, você terá que desenhar táticas e ações diferentes. Eu, por exemplo, monitoro continuamente editais de cooperação internacional, que fazem sentido pra minha organização.


Agora leia
aqui minhas 7 dicas para arrasar na hora de captar via editais.


3- MARKETING RELACIONADO À CAUSA


Como o próprio nome sugere,
Marketing Relacionado à Causa (MRC), ou marketing de causa, é a combinação de dois grandes assuntos: marketing e causa social. Sendo assim, a primeira “tarefa de casa” para alguém que deseja aproveitar essa estratégia de captação de recursos é estudar e compreender o básico sobre os dois assuntos.


Neste guia, vou focar somente no marketing, porque “causa social” merece uma conversa à parte. Só guarde o que vou te dizer agora:
a causa social da sua ONG não é o público que ela atende. Se não é isso, já vai refletindo por aí: “qual é a causa social da minha ONG?”.


Sobre marketing,
Raimar Richers comenta que essa é uma palavra que circula no Brasil quase com a mesma frequência e intensidade das palavras democracia e goiabada


Certamente, você já deve ter ouvido ou dito algumas das frases: “arrasou no marketing!”, “eles têm uma boa equipe de marketing”, “esse marketing foi muito apelativo”, “é tudo marketing!”. Todas elas nos ajudam a provar a popularidade do marketing no Brasil.


Apesar de o marketing ser algo difícil de conceituar, considerando que o termo já passou por muitas reformulações e
se transforma de acordo com o contexto, não posso deixar de conversar com você sobre o conceito de “marketing social”, diretamente conectado com o nosso trabalho e “pano de fundo” do MRC. 


Paulo Meira
explica que o marketing social é praticado por governos e agências de financiamento e que seu objetivo “é conscientizar ou sensibilizar as pessoas a respeito de um tema de natureza social ou buscar uma mudança de comportamento social”. O “pai do marketing”, Philip Kotler, demonstra a importância do “uso dos princípios e técnicas de marketing para influenciar um público-alvo a voluntariamente aceitar, rejeitar, modificar ou abandonar um comportamento para o benefício de indivíduos, grupos ou da sociedade como um todo”.


Algumas pessoas colocam marketing social e  marketing relacionado à causa (MRC) como sinônimos, mas gosto de entendê-los da seguinte forma: marketing social é o que uma OSC pratica – por exemplo, é a sua relação com as pessoas e a sociedade em prol de uma mudança de comportamento; já o MRC parte das empresas e envolve resultados comerciais, ainda que contribua diretamente para causas.


Exemplo de marketing social Uma OSC da causa animal resolve realizar uma campanha com finalidade de diminuir os maus tratos e abandono de animais.
Exemplo de marketing relacionado à causa Uma empresa resolve celebrar uma parceria com uma OSC da causa animal, e uma das ações envolve a venda de livros especiais sobre o universo pet. Parte da renda gerada é direcionada para a OSC parceira.

Percebe as diferenças?


Para explicar MRC, gosto da definição do Ipê - Instituto de Pesquisas Ecológicas, que diz o seguinte: “Marketing Relacionado à Causa é um acordo comercial entre empresa e organização da sociedade civil (OSC) e/ou causa que utiliza o poder de suas marcas para benefício mútuo”.


O Ipê ainda fala que, para as empresas, o MRC “é uma modalidade de investimento social corporativo que alinha estratégias de marketing às necessidades da sociedade, utilizando a expertise empresarial para promover e mobilizar a sociedade em prol de uma causa”. Entende-se que “as instituições sociais (as OSCs) podem usufruí-la como uma ferramenta de captação de recursos e conscientização da sociedade”.


Dessa forma, ainda segundo o Ipê, podemos concluir que “o consumidor e a sociedade, por sua vez, têm a oportunidade de colaborar com uma causa, por meio de um mecanismo facilitado, como a compra de um produto”.


Como podemos ver, o MRC como um todo envolve o tripé empresas, organizações da sociedade civil (OSCs) e sociedade.

Conheça as campanhas de MRC do Ipê.


Algo que escuto com frequência é que MRC é só para grandes ONGs. E não vou mentir pra você: me parece que, sim, as grandes empresas preferem as grandes ONGs, porque, afinal de contas, estamos falando de marketing! (Quando me refiro a “grandes” ONGs, estou falando de organizações que têm escala – milhares de atendimentos em diferentes territórios – e maturidade financeira).


Mas, por outro lado, defendo que desistir antes de tentar não é inteligente. Sempre me inspiro nas “grandes ONGs” e me preparo para que a ONG que fundei se torne uma grande referência também, replicando, dentro da nossa realidade, algumas ações de MRC. Por exemplo, no início da pandemia comprei um laptop da marca Lenovo, que tem parceria com o Instituto Ayrton Senna e que sabe muito bem como explorar a estratégia de MRC. Coloquei na cabeça que tentaria algo assim pra minha ONG e fui atrás.


Comecei a listar pessoas que eu conheço e que são donas de empresas e/ou conhecem pessoas que são. Cheguei a uns três nomes. Verifiquei que uma das empresas da lista tinha um posicionamento de mercado muito conectado com a causa da minha organização (empoderamento de mulheres). Fiz uma abordagem e vendi a ideia.


Durante a primeira onda da pandemia, nossa parceria foi um sucesso – tanto para a ONG, que conseguiu recursos para ações emergenciais, como para a empresa, que vendeu muito mais do que o esperado, atribuindo à parceria o bom retorno financeiro. É claro que não foi uma captação de recursos "estratosférica”, como imagino que seja a de uma organização do nível do Instituto Ayrton Senna, mas juntos desenhamos objetivos que foram alcançados. Veja aqui o relato da dona da empresa.


Importante: estabeleça seus objetivos de acordo com a sua realidade. Inspire-se em grandes ONGs ou campanhas, mas evite comparações.


Abaixo destaco três estratégias de marketing de causa, veja:


→ 3.1 ARREDONDAMENTO


O arredondamento, também conhecido por “1 compra, 1 doação”, é uma das formas de captar recursos por meio do marketing relacionado à causa.


Na prática, ao comprar um produto ou serviço, como um remédio na farmácia, um curso on-line ou uma passagem aérea, você pode escolher arredondar a sua compra e assim doar os “centavos” a mais para uma OSC ou causa. A soma dos centavos vira milhares de reais, que fazem MUITA diferença para inúmeras organizações (e nós sabemos o quanto, hein!).


Exemplo:

Para se ter ideia, até a data de publicação deste texto, o Movimento Arredondar, parceiro do Portal do Impacto e da Phomenta, já tinha captado mais de 7,9 milhões de reais, beneficiando diretamente mais de 60 organizações ao redor do Brasil. 


Leia aqui os 4 passos para criar sua ação de arredondamento.


Esse tipo de ação, que tem se popularizado muito no Brasil, pode ser efetivada em lojas físicas e virtuais e utiliza meios de pagamento como dinheiro, cartão de crédito, PIX ou a velha caixinha de moedas.


Tenho uma amiga que trabalha na área de marketing de uma rede de supermercados no Nordeste, e uma vez lhe pedi que me explicasse como funciona sua iniciativa de arredondamento. Ela disse que é algo que envolve os times de marketing, tecnologia, financeiro e recursos humanos e que, quanto maior o supermercado, mais complexa tende a ser a integração de sistemas, por exemplo. Daí, me recomendou começar com redes menores, nas quais o processo decisório é menos burocrático e mais rápido e também pode existir menos “concorrência” de OSCs/causas. Ela ainda mencionou que é imprescindível que a empresa dedique recursos para o treinamento das pessoas que atendem no caixa, pois elas são o principal elo com os consumidores, pessoas que desejamos “converter” em doadores.


O Arredondar tem um cadastro para ONGs que desejam fazer parte do movimento. Na página, eles indicam que as ONGs busquem parceiros na região onde têm atuação. Também deixam claro que podem apoiar as ONGs em reuniões com empresas, apresentando como funciona o arredondamento e tirando quaisquer dúvidas. Parece-me uma boa parceria!


Mais: prepare-se para abordar empresas na sua região!


→ 3.2 PRODUTOS SOCIAIS


Geralmente, os produtos sociais são produtos licenciados de marcas ou personagens famosos. 


A Associação Brasileira de Licenciamento (Abral) define o licenciamento como a “concessão de uma marca ou personagem protegida por direitos autorais (conhecida como propriedade intelectual – PI) para exploração comercial em um produto, serviço ou promoção”.


A exemplo, a Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia (Abrale) tem a camiseta Projeto Dodói, em parceria com o Instituto Maurício de Souza (Turma da Mônica).

A Ambev tem a água AMA, que reverte 100% do lucro de suas vendas para projetos sociais. A proposta é levar água para quem não tem. Segundo o site da iniciativa, mais de 7 milhões de reais já foram arrecadados e 76 projetos foram apoiados.


Desde 2015, a Doritos apoia a comunidade LGBTQIA+ por meio da campanha “Doritos Rainbow”. 


Ano passado, o Guaraná Antártica apoiou o movimento #PresaNos80, criado para dar visibilidade e reforçar a importância do investimento no futebol feminino. A campanha resgatou um dos primeiros rótulos do refrigerante, e toda a renda gerada com uma edição especial do produto foi revertida para a ONG Meninas em Campo, que trabalha pelo desenvolvimento feminino no futebol.


Legal, né?! Há muitos exemplos que podem nos inspirar a criar uma campanha de produto social. E não é tão distante quanto você pode pensar, mas envolve RELACIONAMENTO.


Como falei no texto Pirâmide da captação de recursos, esta é uma montanha que precisamos escalar.


Ainda não liderei uma ação que envolvesse produto social, mas já trabalhei com licenciamento de marca quando tive uma agência de marketing esportivo. É um assunto que requer uma boa assessoria jurídica. No entanto, é algo que estou perto de conseguir para a minha ONG. Se der certo, conto a você como fiz. Prometo!


→ 3.3 MATCHFUNDING


Matchfunding é uma variação do financiamento coletivo, no qual uma pessoa doa para uma ONG ou causa e ganha uma recompensa em troca. A diferença é que no matchfunding existe um parceiro comercial, quase sempre uma empresa, que dobra ou até triplica a doação.


Funciona assim:


  1. As pessoas doam;
  2. As empresas dobram ou triplicam o valor da doação;
  3. A ONG recebe a doação e envia a recompensa às pessoas que doaram.


Nesse modelo, mais uma vez, a gente encontra o tripé empresa, OSC e sociedade.


A Benfeitoria tem um
matchfunding muito famoso, chamado Matchfunding Enfrente. A campanha conta com um Fundo Colaborativo Enfrente, composto pela Fundação Tide Setubal, Galo da Manhã, Fundação ARYMAX e Instituto Humanize. É muito bacana acompanhar e conhecer esse matchfunding, porque há um processo seletivo de projetos e porque é um modelo com grande poder de replicação local. As empresas estão sempre buscando formas inovadoras de apoiar ONGs e causas, e você pode se tornar a primeira pessoa a apresentar uma ideia do tipo para determinada companhia.


Até pouco tempo, o Catarse vinha selecionando campanhas ativistas sobre mudanças climáticas e garantindo 30% da meta de arrecadação (ver o Matchfunding ativismo socioambiental).


A título de curiosidade, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDS) realiza, desde 2019, o
Matchfunding BNDES+, programa inovador de financiamento a projetos culturais. O projeto é o primeiro do setor público a adotar um modelo de financiamento combinado, unindo o aporte direto do BNDES ao financiamento coletivo (crowdfunding).


Saiba mais: Empresas multiplicam doações para o terceiro setor com campanhas de matchfunding.


4- VENDA B2B


Para início de conversa, a venda B2B vem do inglês “business-to-business” e ela acontece quando 2 organizações negociam entre si. No caso, pode se tratar da venda de um serviço ou produto da sua ONG para uma empresa ou até mesmo de uma negociação entre a sua ONG e outra organização da sociedade civil.


Para ficar ainda mais compreensível, quando a ONG tem um bazar, quase sempre ela vende para o consumidor final, modelo conhecido como B2C (business-to-consumer), na venda B2B, a venda do produto ou serviço sempre será feita de uma organização para outra.


Você conhece alguma ONG que faz esse tipo de venda? Talvez a sua?


Para conhecer alguns casos e se inspirar, em outubro do ano passado, em parceria com a Fundação FEAC, a Phomenta realizou a
Rodada Social Campinas, em que compartilhou soluções de ONGs da região de Campinas que vendem para empresas. Além disso, o evento contou com a participação de Luiz Drouet, que falou sobre capitalismo consciente


Assistir à Rodada


Alguns cuidados que a ONG deve ter em relação à venda B2B


1) Preveja a venda de serviços e produtos no estatuto da sua ONG.
Algumas ONGs até optam por criar CNPJ separado, o que é papo para outro artigo, mas se esse não é o seu caso, lembre de incluir/atualizar a venda B2B no capítulo “do patrimônio, fontes de recursos e sustentabilidade” (pode vir com outro nome) do estatuto da sua organização, para não ter problemas com a Assembleia Geral e o Conselho Fiscal.


Veja aqui modelo de estatuto atualizado conforme o MROC - Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil.


2) Escolha a CNAE (classificação nacional de atividades econômicas) mais adequada. Se estiver previsto no estatuto que a sua ONG pode vender produtos ou prestar serviços, o próximo passo é escolher a melhor CNAE para constar como atividade secundária no Cartão CNPJ – já que a principal será sempre a da sua atividade-fim (educação, saúde ou assistência social)

Quando uma venda é realizada e uma Nota Fiscal é emitida - sim, ONGs podem emitir nota fiscal -, o código CNAE é utilizado para informar qual o tipo de atividade foi exercida pela ONG, no caso, estabelecendo assim quais impostos serão necessários pagar.


LEIA: 4 dúvidas mais frequentes no momento de vender um produto ou serviço na sua ONG.


E MAIS!!!
Descubra quais são as imunidades e isenções de tributos que sua ONG pode usufruir.


3) Venda B2B quase sempre vai exigir uma operação à parte da operação da própria ONG. Dessa forma, esteja ciente de que essa estratégia vai demandar equipe própria e fazer uma boa gestão do tempo.


4) Não perca de vista a missão da ONG. Lembre-se que a venda de produtos e serviços é somente um meio para que a organização cumpra sua missão e atinja sua causa. Caso a ONG abandone seus serviços de interesse coletivo ou social para se tornar somente uma prestadora de serviços para empresas, é o caso de a Assembleia Geral pensar se faz sentido continuar sendo uma organização da sociedade civil.


5) Qualidade sempre será fator determinante. As ONGs que optarem por venda B2B precisam estar cientes de que, a depender do ramo de atividade, vai existir muita concorrência, demandando conhecimento profundo do serviço ou produto comercializado, qualidade e bom atendimento. Por vezes, empresas pagam mais do que pessoas físicas, mas são mais exigentes.


6) A documentação precisa estar sempre em dias! Quando sua ONG vira uma prestadora de serviços de empresas, sobretudo das grandes empresas, ela vira uma fornecedora, exigindo documentação de praxe, algumas diferentes daquelas exigidas por editais e parcerias com o poder público, e preenchimento de alguns formulários due diligence.


LEIA TAMBÉM: 5 dicas para sua ONG começar a gerar receita com a venda de produtos.



5- CAPTAÇÃO DE PRODUTOS


Como sabemos, algumas empresas preferem apoiar ONGs doando produtos em vez de dinheiro. Há muitas razões para isso acontecer, desde a política interna, os valores e a cultura de uma empresa, até a maturidade e consciência de um povo em relação à importância da doação em dinheiro.


Mas como tem sido em toda esta série sobre captação de recursos com empresas, vou direto ao ponto:
como podemos aproveitar da melhor forma possível a captação de produtos com empresas? 


Antes de tentar responder a essa pergunta, vou trazer um recorte da pandemia de Covid 19 para entendermos a força das doações de produtos: no gráfico abaixo, é possível identificar que 32% das doações registradas pelo
Monitor das Doações COVID 19, doados como resposta à COVID-19, são de produtos (cestas básicas, álcool em gel, máscaras etc.).

É certo que numa situação de emergência como a que vivemos, a doação de produtos fez muita diferença, foi VITAL, mas quem esteve na ponta, na verdade quem está, sabe que falta dinheiro “livre” para para custear despesas que produtos não podem pagar, pelo menos não diretamente. E é aqui que eu começo a responder a pergunta que fiz acima.


O primeiro ponto que precisamos superar, que é o entrave para a imensa maioria das ONGs,
é como chegar até as empresas que doam produtos. Tem empresas doando computadores, materiais esportivos, produtos de beleza, roupas, calçados, comida… pesquisando no Google, você vai encontrar uma grande variedade de produtos que estão sendo doados por empresas.


Para ultrapassar essa barreira, aqui vão três dicas básicas:

1) Mapeie as empresas da sua região, identifique quais produtos fazem sentido para a sua ONG e vá à luta (bata de porta em porta).

2) Pesquise no Google notícias de empresas que estão doando produtos e entre em contato, apresente a história e demanda da sua organização.

3) Use o LinkedIn para criar e ampliar suas conexões.


Uma vez que você tenha conseguido captar produtos com empresas, você tem algumas possibilidades de usufruir desse recurso:

1) Usar como benefício para os funcionários e voluntários da ONG.

2) Destinar/doar para os beneficiários da ONG.

3) Usar como recompensa em campanhas de vaquinha coletiva.

4) Gerar renda com a venda dos produtos.


Nesse último caso, você pode vender por meio de uma plataforma on-line e/ou bazar da organização. Mas atente-se: para todas essas opções, é importante que você verifique com a empresa que fez a doação se é permitido. Em alguns casos, há um contrato entre a empresa e a ONG, indicando o que pode ser feito ou não com os produtos.


6- VOLUNTARIADO CORPORATIVO


Nos últimos anos, muitas empresas também têm optado por doar tempo dos seus funcionários às ONGs, numa estratégia conhecida como voluntariado corporativo.


Para saber mais sobre essa estratégia, acesse os seguintes conteúdos:


Faça também sua pré-inscrição nos programas de Aceleração Corporativa da Phomenta e receba o apoio de voluntários de grandes empresas para ajudar na gestão da sua organização.



Realizar pré-inscrição



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Daiany França Saldanha é responsável pelo editorial do Portal do Impacto.


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Por Diego Baptista 30 de janeiro de 2025
O termo trauma causa espanto para muita gente, mas está cada vez mais sendo tratado de forma científica e estratégica no campo de impacto social também. Uma pesquisa da The Well Being Project e a George Washington University em parceria com o Collective Change Lab chamada “Ciclos de trauma e a jornada para o bem-estar” investiga o efeito dos traumas nas pessoas que trabalham no setor do impacto e também como aparecem nos diversos desafios, causas, problemas e potenciais soluções. De acordo com o relatório: “O trauma está em toda parte – em nossas casas, comunidades, instituições e sistemas. No trabalho de mudança social, também vemos traumas nas raízes dos maiores desafios que o mundo enfrenta hoje – e nas vidas das pessoas que trabalham para enfrentá-los. Abordagens de mudança social baseadas no trauma têm o poder de ajudar a desbloquear a cura, o bem-estar e a transformação social para todos.” Esse artigo traz alguns passos para que as pessoas que trabalham com impacto possam reconhecer em si mesmas, em seus times, organizações e principalmente nos seus públicos atendidos a sabedoria dos traumas como parte das causas dos problemas e soluções que buscam resolver. Compreender os traumas no campo de impacto pode informar estratégias para a transformação social nos ajudando a lidar com a complexidade de que traumas são também de origem histórica e coletiva. Ao ponto que ao não serem identificados e integrados, continuam a causar a estagnação dos problemas que vivenciamos hoje. Primeiro passo: identificar e reconhecer os diferentes tipos de traumas Para começarmos a nos informar sobre os traumas nas causas que atuamos é importante identificar os diferentes tipos de traumas e a forma como se interrelacionam, de acordo com o artigo Healing Systems da Stanford Social Innovation Review: Trauma individual se refere a uma ferida invisível causada por um evento avassalador, série de eventos ou condições duradouras. Trauma intergeracional ocorre quando um ou mais ancestrais passam adiante traumas não curados que vivenciaram antes de terem filhos ou durante a gravidez. Trauma coletivo descreve o impacto em nível populacional de um evento ou processo catastrófico que interrompe as estruturas que uma comunidade ou sociedade criou para sustentar seu modo de vida. Trauma histórico pode ser coletivo e intergeracional por natureza, mas se refere especificamente a danos intencionais e opressão cometidos contra um grupo de pessoas por causa de características como raça, religião ou identidade nacional, social ou sexual, e visa subjugá-los para ganho. Trauma sistêmico inclui os impactos não abordados de traumas individuais, intergeracionais, coletivos e históricos, bem como traumas recentes criados por estruturas sistêmicas e dinâmicas relacionais prejudiciais dos dias atuais. Segundo passo: compreender os padrões individuais e coletivos de reação aos traumas Os traumas que carregamos influenciam a maneira como interpretamos e respondemos ao mundo, tanto nos desafios diários quanto nas próprias soluções que desenhamos. Perceber os efeitos dos traumas nas pessoas, nas relações entre grupos, nas estruturas sociais, políticas, econômicas e nos padrões repetidos dos sistemas pode nos ajudar a encontrar soluções mais transformadoras para as causas que atuamos e para o nosso próprio desenvolvimento como lideranças da transformação social. Respostas de luta: comportamento hipervigilante, agressivo e controlador, incluindo críticas excessivamente duras, reações exageradas a infrações menores, condenação implacável de erros como falhas de caráter, retenção de informações e desconfiança crônica e injustificada; Respostas de fuga: fragmentação, confusão e desorganização, não reconhecimento de uma realidade avassaladora, minimização de consequências e incoerência entre palavras e ações; Respostas de congelamento: paralisia, dissociação, retraimento, dormência, insensibilidade, vontade imobilizada, sensação de vazio ou desconexão e incapacidade de acessar emoções. Terceiro passo: desenhar e facilitar práticas de cura individual e coletiva Para transformar sistemas sociais de maneira eficaz, é fundamental aplicar uma abordagem que considere os traumas subjacentes que perpetuam os problemas. Isso envolve adotar uma perspectiva centrada na cura, que busca conectar a sociedade à nossa humanidade compartilhada e liberar nosso potencial criativo para enfrentar questões sociais e ambientais. Ao criar espaços propícios para a cura, podemos transformar sistemas traumatizados em ambientes de compaixão e cuidado, reparando relacionamentos e promovendo um fluxo saudável de ideias. A cura coletiva, que enfatiza o poder dos relacionamentos, permite que indivíduos e grupos identifiquem e tratem danos causados a si mesmos e aos outros. Essa abordagem transforma a energia destrutiva do trauma em maior consciência e compaixão, incentivando a colaboração e a inovação nas práticas sociais. Líderes de mudança social frequentemente se inspiram em tradições indígenas e práticas de justiça restaurativa, utilizando essas sabedorias para integrar a cura coletiva em seus esforços de transformação de sistemas, promovendo assim uma mudança mais significativa e duradoura. Algumas práticas que podem ser adotadas: Honrar e acolher as tradições culturais, identidades e línguas de todas as pessoas afetadas ou participantes de processos de mudança social Introduzir práticas corporais como dança, canto, meditação em grupo e trabalho somático para ajudar os participantes a se reconectarem com sua fisicalidade e regular seus sistemas nervosos Práticas horizontais e relacionais, como círculos de cura, que incentivam a escuta empática e reduzem desequilíbrios de poder Incluindo atenção plena ou outras práticas de cultivo da consciência para fortalecer a consciência das pessoas e a capacidade de hospedar seus próprios estados ativados e os dos outros Reconectar-se à natureza e seu poder de cura como parte fundamental do processo Entrar no poder de contar e possuir a própria história e testemunhar as histórias dos outros Imbuir o processo com sacralidade por meio de rituais, como fazer uma bênção tradicional, ler um texto ou poema espiritual, reconhecer ancestrais e gerações anteriores ou compartilhar lendas tradicionais ou histórias. Grupos de indivíduos que se envolvem intencionalmente em um processo de cura coletiva buscam reparar relacionamentos, restaurar conexões e aprofundar sua capacidade de se manterem conectados a si mesmos e uns aos outros, mesmo em momentos de ativação emocional. Esses núcleos de restauração e reparo têm um impacto que se irradia para fora, influenciando as relações pessoais, as organizações e as coalizões, além dos movimentos mais amplos dos quais os membros do grupo fazem parte. Para a saúde mental e o bem estar florescerem de maneira sustentável, precisamos normalizar a conversa e o trabalho sobre traumas, reconhecendo como fontes de sabedoria e transformação que podem trazer um novo potencial para as lideranças sociais, assim como novas soluções para as estratégias de impacto e a relação com beneficiários e parcerias. Referências: https://www.intergenerational-trauma.com/ https://ssir.org/articles/entry/healing-trauma-systems CYCLES OF TRAUMA AND THE JOURNEY TO WELLBEING: A Framework For Trauma Informed Practices & Positive Social Change. Executive Summary & Part I: Why Does Trauma Matter for Wellbeing and Social Change?
Por Instituto Phomenta 28 de janeiro de 2025
Em 2025, as mudanças climáticas pautarão ainda mais o Terceiro Setor. Seus impactos afetam diretamente comunidades vulneráveis, economias locais e projetos sociais. Durante o webinar Futuro em Foco: Tendências de 2025 para o Terceiro Setor, integrantes da Phomenta destacaram como as ONGs podem atuar para contribuir no enfrentamento à crise global enquanto promovem sua própria sustentabilidade. Como as mudanças climáticas afetam as comunidades vulneráveis De acordo com o estudo realizado pelo braço de pesquisa da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), entre 2020 e 2023, registramos uma média anual de 4.077 desastres relacionados ao clima no Brasil, quase o dobro em comparação às duas décadas anteriores. Enchentes como as registradas no Rio Grande do Sul em 2024 ou secas prolongadas em regiões do Nordeste brasileiro evidenciam o desequilíbrio ambiental que afeta principalmente populações mais pobres. O conceito de justiça climática é central nesse debate. Ele propõe que os custos das mudanças climáticas e as ações de adaptação sejam distribuídos de forma justa, priorizando quem mais sofre com os impactos. Porém, segundo a pesquisa Justiça Climática no Brasil , da PwC e o Instituto Locomotiva, apenas 32% dos brasileiros estão familiarizados com o termo, embora 75% reconheçam sua importância quando explicados. Isso reforça o papel das ONGs na educação e mobilização da sociedade, uma das oportunidades para o Terceiro Setor em 2025. Por que ONGs devem priorizar as mudanças climáticas em 2025 As mudanças climáticas influenciam diretamente os planos de atuação e captação de recursos das ONGs. O aumento de desastres naturais não apenas amplia a demanda por ações emergenciais, mas também exige que as organizações adaptem suas práticas e desenvolvam soluções sustentáveis. Leia mais: https://www.portaldoimpacto.com/7-ongs-e-movimentos-que-pautam-justica-climatica-para-conhecer Essa preparação inclui repensar projetos e direcioná-los para as populações mais vulneráveis. Por exemplo, uma ONG que trabalha com segurança alimentar pode incorporar ações para apoiar agricultores familiares afetados por secas ou enchentes. Já organizações que atuam com habitação popular podem focar em soluções de moradia resiliente para eventos climáticos extremos. Tendências e oportunidades para as ONGs em 2025 Captação de recursos alinhada à sustentabilidade: Com o aumento do interesse corporativo em práticas ESG (Governança Ambiental, Social e Corporativa), muitas empresas estão buscando apoiar projetos sustentáveis. ONGs que apresentarem propostas bem estruturadas e transparentes têm grandes chances de atrair financiamento. Educação e conscientização ambiental: A falta de conhecimento sobre os impactos das mudanças climáticas é uma barreira, mas também uma oportunidade. Campanhas educativas podem sensibilizar mais pessoas sobre a importância de ações climáticas e engajar novos apoiadores. Participação na COP30: A Conferência do Clima, que será realizada em Belém do Pará, será uma vitrine global para destacar soluções climáticas locais e reforçar o papel do Brasil na agenda ambiental. ONGs podem aproveitar o evento para ganhar visibilidade, ter novas ideias e estabelecer parcerias. Uso de ferramentas tecnológicas: Plataformas como o Radar de Editais ( https://www.portaldoimpacto.com/radar-de-editais ) ajudam ONGs a encontrar oportunidades de financiamento para projetos relacionados à sustentabilidade. Além disso, tecnologias como sistemas de monitoramento climático podem ser incorporadas em ações locais. As mudanças climáticas representam um desafio sem precedentes, mas também uma oportunidade para as ONGs liderarem ações inovadoras. Com estratégias, parcerias e educação ambiental, é possível não apenas mitigar os efeitos das crises climáticas, mas também promover justiça social e ambiental. Confira o Webinar na íntegra para saber mais sobre o assunto
Por Instituto Phomenta 21 de janeiro de 2025
O que o futuro reserva para o financeiro das ONGs? Sabemos que essa é uma pergunta que afeta integrantes do Terceiro Setor em todo início de ano, e foi um dos temas que norteou o webinar Futuro em Foco: Tendências de 2025 para o Terceiro Setor , promovido pela Phomenta em dezembro de 2024. Durante o evento, profissionais da Phomenta trouxeram dados sobre o cenário que se espera para as organizações no próximo ano, além de comentar caminhos para enfrentar a competição por recursos e fortalecer a sustentabilidade das organizações. Um cenário de ajustes e adaptações Os números apresentados no webinar destacaram o aumento do interesse em práticas ESG (Governança Ambiental, Social e Corporativa) entre empresas, mas também revelaram um dado preocupante: 62% dos investidores sociais preveem reduzir seus aportes em 2025, de acordo com o Relatório BISC 2024. Isso evidencia um cenário desafiador para as ONGs, que precisarão diversificar fontes de financiamento e buscar novas formas de engajamento com doadores. Paralelamente, o uso de leis de incentivo foi apontado como uma alternativa cada vez mais relevante. As ONGs que conseguem estruturar projetos consistentes e alinhados aos requisitos legais têm atraído investidores interessados nos benefícios fiscais. Confira o Webinar na íntegra:
Por Instituto Phomenta 13 de janeiro de 2025
A Inteligência Artificial (IA) tem impactado profundamente diferentes áreas da sociedade, e sua aplicação no campo social não é exceção. Para as ONGs, essa tecnologia pode oferecer oportunidades de otimizar processos, ampliar alcance e gerar maior impacto em suas causas, mas também apresenta desafios que precisam ser abordados com ética e responsabilidade. O que é a Inteligência Artificial e como ela pode ajudar as ONGs? A IA é um ramo da tecnologia que simula capacidades humanas como aprendizado, tomada de decisão e reconhecimento de padrões. No contexto das ONGs, isso significa ferramentas que podem automatizar tarefas, analisar grandes volumes de dados e melhorar a eficiência operacional. Além disso, sistemas de IA podem ser adaptados para atender pessoas com deficiências, ampliando o alcance das organizações e tornando suas ações mais inclusivas. Leia mais: https://www.portaldoimpacto.com/inteligencia-artificial-e-seu-potencial-para-as-ongs-parte-1-4 E na prática? Algumas ONGs já fazem uso destas ferramentas através de: Chatbots: Os chatbots são programas de computador que simulam uma conversa humana, oferecendo respostas automáticas e personalizadas. Eles podem ser usados para facilitar a comunicação, como no atendimento a dúvidas frequentes de beneficiários ou doadores, reduzindo custos e otimizando o tempo da equipe. Análise de dados: A Inteligência Artificial pode identificar padrões em campanhas de doação, prever demandas futuras e melhorar a alocação de recursos. Campanhas personalizadas: ONGs podem usar IA para segmentar públicos e criar mensagens mais efetivas, aumentando o engajamento com a causa. Em 2025, espera-se que essas inteligências sejam ainda mais utilizadas. O assunto foi discutido no Webinar Futuro em Foco, da Phomenta, que buscava apresentar as principais tendências para Terceiro Setor. Confira abaixo:
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