Daiany França Saldanha é responsável pelo editorial do Portal do Impacto.
Este conteúdo foi produzido por
Daiany França
“Como captar com empresas?” é um dos assuntos mais pedidos por quem acompanha o Portal do Impacto, por isso preparei este guia com informações essenciais para você obter sucesso com essa fonte de captação. Como gosto de falar, é ouro em forma de conteúdo.
Alerta! Recomendo paciência e disciplina para acompanhar os textos, acessar os links e o material complementar e colocar tudo o que vai aprender com o nosso Portal em prática, não tenho dúvidas de que a sua organização vai captar muito mais recursos daqui para frente.
Este não é um conteúdo como os outros daqui do Portal; é um pouco mais longo. Dito isso:
Vamos começar?
Caracterizam-se como um mecanismo de renúncia fiscal criado pelos governos municipais, estaduais e federal.
Mas isso não explica muito, eu sei. Primeiro é preciso entender o que é renúncia fiscal.
Como explica o escritório Martinelli Advogados, renúncia fiscal é uma forma de desoneração tributária que pode ser feita de três formas diferentes: por meio de incentivos fiscais, de isenção fiscal ou de imunidade fiscal, sendo os incentivos a principal delas.
Já falamos sobre imunidade e a isenção de tributos (impostos, taxas e contribuições) para as organizações do terceiro setor
aqui.
Ainda segundo o mesmo escritório de advocacia, as leis de incentivo fiscal permitem que os contribuintes – pessoas físicas (PF) ou jurídicas (PJ) – direcionem, via doação ou patrocínio, parte dos impostos que pagariam ao órgão fiscalizador para fundos de políticas públicas, programas e projetos sociais nas áreas da saúde, assistência social, cultura, esporte e educação. Os incentivos fiscais podem ser instituídos nos três níveis de governo: Federal (IRPJ/CSLL), Estadual (ICMS) e Municipal (ISS/IPTU).
Essa jornada varia de lei para lei. Dentro de cada etapa, há muitos pontos que requerem atenção e tarefas para executar, mas o mais importante é saber que o dinheiro não vem diretamente dos governos. O que acontece, na verdade, é que eles abrem mão de receber uma parte dos impostos devidos. São as pessoas jurídicas (e pessoas físicas) que decidem para qual projeto vão reverter parte do dinheiro que elas deveriam fornecer ao governo como pagamento de impostos – a tal da renúncia fiscal. Ou seja, a captação de recursos acontece de fato com as empresas.
Por onde começar?
Conhecendo as leis.
Entre as leis de incentivo fiscal mais conhecidas, destaco três:
Qualquer pessoa física que tenha imposto de renda a declarar ou empresa tributada pelo lucro real pode financiar projetos culturais utilizando o mecanismo da Lei de Incentivo à Cultura, sendo que as pessoas físicas podem direcionar 6% do imposto devido; e as jurídicas, 4% (tratam-se de empresas enquadradas no artigo 14 da Lei nº 9.718/98).
O site da Lei é bastante didático e explica o caminho do incentivo, que se assemelha muito aos caminhos das demais leis de incentivo fiscal.
Para aprender a escrever um projeto para a Lei de Incentivo à Cultura, sugiro
esse treinamento do Instituto Cultural Vale, com 5 aulas online que vão desde compreensão da lei até a prestação de contas de um projeto. Clique
aqui para assistir às aulas.
Pessoas físicas podem deduzir até 7% do Imposto de Renda devido; e pessoas jurídicas tributadas com base no lucro real, até 2% do Imposto de Renda devido.
Sobre esse assunto, indico o trabalho da
Comunidade de Líderes Esportivos, que ensina o passo a passo sobre como aprovar projetos e captar recursos, de modo a aproveitar os benefícios da lei.
Os Fundos da Criança e do Adolescente (FDCA) visam financiar projetos que garantam os direitos da criança e do adolescente. Foi criado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) – Lei 8069/90.
No artigo 260 do ECA, encontramos as seguintes regras:
Art. 260. Os contribuintes poderão efetuar doações aos Fundos dos Direitos da Criança e do Adolescente nacional, distrital, estaduais ou municipais, devidamente comprovadas, sendo essas integralmente deduzidas do imposto de renda, obedecidos os seguintes limites:
I- 1% (um por cento) do imposto sobre a renda devido apurado pelas pessoas jurídicas tributadas com base no lucro real; e
II - 6% (seis por cento) do imposto sobre a renda apurado pelas pessoas físicas na Declaração de Ajuste Anual, observado o disposto no art. 22 da Lei n o 9.532, de 10 de dezembro de 1997.
Os Fundos são mecanismos muito semelhantes às Leis de Incentivo à Cultura e ao Esporte, mas eles representam um caso à parte porque carregam muitas particularidades. Para compreendê-los, recomendo a leitura da cartilha “Orientações sobre Fundos dos Direitos da Criança e do Adolescente”, do Conselho Nacional do Ministério Público.
Há outras leis que devem ser levadas em conta, como o
Fundo Nacional do Idoso, instituído pela Lei 12.213/2010, o
Programa Nacional de Apoio à Atenção da Saúde da Pessoa com Deficiência (PRONAS/PCD) e o
Programa Nacional de Apoio à Atenção Oncológica (PRONON).
Importante!
É possível fazer uma combinação de porcentagens entre as diferentes leis. A empresa pode somar diferentes porcentagens de direcionamento, desde que disponha de imposto suficiente para doar e desde que não ultrapasse, nos incentivos federais, o somatório total de 6% no exercício. Por exemplo: 4% via Lei Rouanet, 1% via Lei Federal de Incentivo ao Esporte e 1% via Pronon ou 1% via Pronas/PCD (Cartilha sobre uso de incentivos fiscais).
Leis de incentivo são, de longe, a maneira preferida das empresas de patrocinar projetos sociais e culturais.
Muitos estados e municípios têm suas próprias leis de incentivo. Não sabe quais as leis de incentivo vigentes no seu estado ou município? Comece pesquisando nos sites da assembleia legislativa, câmara municipal, secretarias de governo e conselhos dos direitos da criança e do adolescente. Encontrou uma lei? Estude-a e comece a se preparar para apresentar projetos o quanto antes. Da apresentação do projeto até a captação e permissão para iniciar sua execução, pode levar mais de um ano. Isso quer dizer que captar por meio de leis de incentivo fiscal não é uma estratégia rápida.
Dicas!
Leis de incentivo podem ser mecanismos para a sua organização, sim! Em 2021, a organização que fundei em 2014 captou mais de um milhão de reais só com leis de incentivo ao esporte, tanto estaduais como federais. Em alguns estados ou municípios, poderá acontecer de as empresas não conhecerem as leis e seus benefícios – isso é mais frequente do que você imagina! –, então você pode fazer, se quiser, um trabalho prévio de informação e sensibilização do seu grupo empresarial alvo.
Leia também:
Como qualquer ONG pode usar o abatimento de impostos para atrair doadores.
Já falei
aqui que Tá chovendo edital!
Nesse mesmo texto, ainda atual, comento sobre uma pesquisa do Prosas acerca de editais, realizada em 2019 e publicada em 2020, que avaliou 1.675 editais com foco nas áreas social, cultural e criativa, sendo 82,6% deles nacionais. Os resultados demonstraram que o valor mobilizado no período foi de pelo menos R$1,282 bilhão, o que não representa o valor total, uma vez que somente 628 editais divulgaram o montante total a ser investido. Em termos quantitativos, a maior parte dos editais foi realizada por órgãos governamentais — que também representam o maior montante investido —, seguido, com certa distância, por
empresas e institutos empresariais e órgãos internacionais.
Dicas!
Muitas empresas têm optado pelo combo Leis de incentivo + Edital. Isso quer dizer que, primeiro, você vai aprovar um projeto via lei de incentivo (de esporte, cultura, para crianças e adolescentes, para idosos ou pessoas com deficiência) e, depois, vai adaptar/cadastrar esse mesmo projeto no edital lançado pela empresa, instituto ou fundação empresarial. Em muitos casos, se você não tiver um projeto aprovado na lei de incentivo, não poderá concorrer aos recursos do edital. Ainda é possível encontrar editais “isolados”, mas essa possibilidade tem sido cada vez mais difícil.
Outro ponto de destaque é que muitas vezes o edital pode ser a porta de entrada para um
relacionamento mais sério e duradouro com a empresa. No texto
Pirâmide da captação de recursos, explico como pode funcionar essa jornada.
Onde encontrar editais? Gosto de acompanhar o
Prosas, a newsletter da
ABCR (Associação Brasileira de Captadores de Recursos) e alguns grupos de WhatsApp e Facebook. Mas, antes de sair se cadastrando em listas de e-mails e entrando em grupos, é interessante que você saiba qual será o seu foco em relação à captação com editais.
Vai captar via editais nacionais e/ou internacionais? Qual sua área de interesse: saúde, esporte, cultura, pesquisa…? Vale tudo: editais públicos e privados? Sua OSC está apta para os editais de projetos incentivados? Essas são algumas perguntas que você deve responder antes de avançar nessa estratégia, pois a depender das respostas, você terá que desenhar táticas e ações diferentes. Eu, por exemplo, monitoro continuamente editais de cooperação internacional, que fazem sentido pra minha organização.
Agora leia
aqui minhas 7 dicas para arrasar na hora de captar via editais.
Como o próprio nome sugere, Marketing Relacionado à Causa (MRC), ou marketing de causa, é a combinação de dois grandes assuntos: marketing e causa social. Sendo assim, a primeira “tarefa de casa” para alguém que deseja aproveitar essa estratégia de captação de recursos é estudar e compreender o básico sobre os dois assuntos.
Neste guia, vou focar somente no marketing, porque “causa social” merece uma conversa à parte. Só guarde o que vou te dizer agora:
a causa social da sua ONG não é o público que ela atende. Se não é isso, já vai refletindo por aí: “qual é a causa social da minha ONG?”.
Sobre marketing,
Raimar Richers comenta que essa é uma palavra que circula no Brasil quase com a mesma frequência e intensidade das palavras
democracia
e
goiabada.
Certamente, você já deve ter ouvido ou dito algumas das frases: “arrasou no marketing!”, “eles têm uma boa equipe de marketing”, “esse marketing foi muito apelativo”, “é tudo marketing!”. Todas elas nos ajudam a provar a popularidade do marketing no Brasil.
Apesar de o marketing ser algo difícil de conceituar, considerando que o termo já passou por muitas reformulações e
se transforma de acordo com o contexto, não posso deixar de conversar com você sobre o conceito de “marketing social”, diretamente conectado com o nosso trabalho e “pano de fundo” do MRC.
Paulo Meira explica que o marketing social é praticado por governos e agências de financiamento e que seu objetivo
“é conscientizar ou sensibilizar as pessoas a respeito de um tema de natureza social ou buscar uma mudança de comportamento social”. O “pai do marketing”, Philip Kotler, demonstra a importância do “uso dos princípios e técnicas de marketing para influenciar um público-alvo a voluntariamente aceitar, rejeitar, modificar ou abandonar um comportamento para o benefício de indivíduos, grupos ou da sociedade como um todo”.
Algumas pessoas colocam marketing social e marketing relacionado à causa (MRC) como sinônimos, mas gosto de entendê-los da seguinte forma: marketing social é o que uma OSC pratica – por exemplo, é a sua relação com as pessoas e a sociedade em prol de uma mudança de comportamento; já o MRC parte das empresas e envolve resultados comerciais, ainda que contribua diretamente para causas.
Exemplo de marketing social | Uma OSC da causa animal resolve realizar uma campanha com finalidade de diminuir os maus tratos e abandono de animais. |
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Exemplo de marketing relacionado à causa | Uma empresa resolve celebrar uma parceria com uma OSC da causa animal, e uma das ações envolve a venda de livros especiais sobre o universo pet. Parte da renda gerada é direcionada para a OSC parceira. |
Percebe as diferenças?
Para explicar MRC, gosto da definição do
Ipê - Instituto de Pesquisas Ecológicas, que diz o seguinte: “Marketing Relacionado à Causa
é um acordo comercial entre empresa e organização da sociedade civil (OSC) e/ou causa que utiliza o poder de suas marcas para benefício mútuo”.
O Ipê ainda fala que, para as empresas, o MRC “é uma modalidade de
investimento social corporativo que alinha estratégias de marketing às necessidades da sociedade, utilizando a expertise empresarial para promover e mobilizar a sociedade em prol de uma causa”. Entende-se que “as instituições sociais (as OSCs) podem usufruí-la como uma ferramenta de captação de recursos e conscientização da sociedade”.
Dessa forma, ainda segundo o Ipê, podemos concluir que “o consumidor e a sociedade, por sua vez, têm a oportunidade de colaborar com uma causa, por meio de um mecanismo facilitado, como a compra de um produto”.
Como podemos ver, o MRC como um todo envolve o tripé
empresas, organizações da sociedade civil (OSCs) e sociedade.
Algo que escuto com frequência é que MRC é só para grandes ONGs. E não vou mentir pra você: me parece que, sim, as grandes empresas preferem as grandes ONGs, porque, afinal de contas, estamos falando de marketing! (Quando me refiro a “grandes” ONGs, estou falando de organizações que têm escala – milhares de atendimentos em diferentes territórios – e maturidade financeira).
Mas, por outro lado, defendo que
desistir antes de tentar não é inteligente. Sempre me inspiro nas “grandes ONGs” e me preparo para que a ONG que fundei se torne uma grande referência também, replicando, dentro da nossa realidade, algumas ações de MRC. Por exemplo, no início da pandemia comprei um laptop da marca Lenovo, que tem parceria com o Instituto Ayrton Senna e que sabe muito bem como explorar a estratégia de MRC. Coloquei na cabeça que tentaria algo assim pra minha ONG e fui atrás.
Comecei a listar pessoas que eu conheço e que são donas de empresas e/ou conhecem pessoas que são. Cheguei a uns três nomes. Verifiquei que uma das empresas da lista tinha um
posicionamento de mercado muito conectado com a causa da minha organização (empoderamento de mulheres). Fiz uma abordagem e vendi a ideia.
Durante a primeira onda da pandemia, nossa parceria foi um sucesso – tanto para a ONG, que conseguiu recursos para ações emergenciais, como para a empresa, que vendeu muito mais do que o esperado, atribuindo à parceria o bom retorno financeiro. É claro que não foi uma captação de recursos "estratosférica”, como imagino que seja a de uma organização do nível do Instituto Ayrton Senna, mas juntos desenhamos objetivos que foram alcançados.
Veja
aqui o relato da dona da empresa.
Importante: estabeleça seus objetivos de acordo com a sua realidade. Inspire-se em grandes ONGs ou campanhas, mas evite comparações.
Abaixo destaco três estratégias de marketing de causa, veja:
O arredondamento, também conhecido por “1 compra, 1 doação”, é uma das formas de captar recursos por meio do marketing relacionado à causa.
Na prática, ao comprar um produto ou serviço, como um remédio na farmácia, um curso on-line ou uma passagem aérea, você pode escolher arredondar a sua compra e assim doar os “centavos” a mais para uma OSC ou causa. A soma dos centavos vira milhares de reais, que fazem MUITA diferença para inúmeras organizações (e nós sabemos o quanto, hein!).
Exemplo:
Para se ter ideia, até a data de publicação deste texto, o Movimento Arredondar, parceiro do Portal do Impacto e da Phomenta, já tinha captado mais de 7,9 milhões de reais, beneficiando diretamente mais de 60 organizações ao redor do Brasil.
Leia aqui os
4 passos para criar sua ação de arredondamento.
Esse tipo de ação, que tem se popularizado muito no Brasil, pode ser efetivada em lojas físicas e virtuais e utiliza meios de pagamento como dinheiro, cartão de crédito, PIX ou a velha caixinha de moedas.
Tenho uma amiga que trabalha na área de marketing de uma rede de supermercados no Nordeste, e uma vez lhe pedi que me explicasse como funciona sua iniciativa de arredondamento. Ela disse que é algo que envolve os times de marketing, tecnologia, financeiro e recursos humanos e que, quanto maior o supermercado, mais complexa tende a ser a integração de sistemas, por exemplo. Daí, me recomendou começar com redes menores, nas quais o processo decisório é menos burocrático e mais rápido e também pode existir menos “concorrência” de OSCs/causas. Ela ainda mencionou que é imprescindível que a empresa dedique recursos para o treinamento das pessoas que atendem no caixa, pois elas são o principal elo com os consumidores, pessoas que desejamos “converter” em doadores.
O Arredondar tem um
cadastro para ONGs que desejam fazer parte do movimento. Na página, eles indicam que as ONGs busquem parceiros na região onde têm atuação. Também deixam claro que podem apoiar as ONGs em reuniões com empresas, apresentando como funciona o arredondamento e tirando quaisquer dúvidas. Parece-me uma boa parceria!
Mais:
prepare-se para abordar empresas na sua região!
Geralmente, os produtos sociais são produtos licenciados de marcas ou personagens famosos.
A Associação Brasileira de Licenciamento (Abral) define o licenciamento como a “concessão de uma marca ou personagem protegida por direitos autorais (conhecida como propriedade intelectual – PI) para exploração comercial em um produto, serviço ou promoção”.
A exemplo, a Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia (Abrale) tem a camiseta Projeto Dodói, em parceria com o Instituto Maurício de Souza (Turma da Mônica).
A Ambev tem a água AMA, que reverte 100% do lucro de suas vendas para projetos sociais. A proposta é levar água para quem não tem. Segundo o site da iniciativa, mais de 7 milhões de reais já foram arrecadados e 76 projetos foram apoiados.
Desde 2015, a Doritos apoia a comunidade LGBTQIA+ por meio da campanha “Doritos Rainbow”.
Ano passado, o Guaraná Antártica apoiou o movimento #PresaNos80, criado para dar visibilidade e reforçar a importância do investimento no futebol feminino. A campanha resgatou um dos primeiros rótulos do refrigerante, e toda a renda gerada com uma edição especial do produto foi revertida para a ONG Meninas em Campo, que trabalha pelo desenvolvimento feminino no futebol.
Legal, né?! Há muitos exemplos que podem nos inspirar a criar uma campanha de produto social. E não é tão distante quanto você pode pensar, mas envolve RELACIONAMENTO.
Como falei no texto
Pirâmide da captação de recursos, esta é uma montanha que precisamos escalar.
Ainda não liderei uma ação que envolvesse produto social, mas já trabalhei com licenciamento de marca quando tive uma agência de marketing esportivo. É um assunto que requer uma boa assessoria jurídica. No entanto, é algo que estou perto de conseguir para a minha ONG. Se der certo, conto a você como fiz. Prometo!
Matchfunding
é uma variação do financiamento coletivo, no qual uma pessoa doa para uma ONG ou causa e ganha uma recompensa em troca. A diferença é que no
matchfunding
existe um parceiro comercial, quase sempre uma empresa, que dobra ou até triplica a doação.
Funciona assim:
Nesse modelo, mais uma vez, a gente encontra o tripé empresa, OSC e sociedade.
A Benfeitoria tem um
matchfunding
muito famoso, chamado Matchfunding Enfrente. A campanha conta com um Fundo Colaborativo Enfrente, composto pela Fundação Tide Setubal, Galo da Manhã, Fundação ARYMAX e Instituto Humanize. É muito bacana acompanhar e conhecer esse
matchfunding, porque há um processo seletivo de projetos e porque é um modelo com grande poder de replicação local.
As empresas estão sempre buscando formas inovadoras de apoiar ONGs e causas, e você pode se tornar a primeira pessoa a apresentar uma ideia do tipo para determinada companhia.
Até pouco tempo, o Catarse vinha selecionando campanhas ativistas sobre mudanças climáticas e garantindo 30% da meta de arrecadação (ver o Matchfunding ativismo socioambiental).
A título de curiosidade, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDS) realiza, desde 2019, o
Matchfunding BNDES+, programa inovador de financiamento a projetos culturais. O projeto é o primeiro do setor público a adotar um modelo de financiamento combinado, unindo o aporte direto do BNDES ao financiamento coletivo (crowdfunding).
Saiba mais:
Empresas multiplicam doações para o terceiro setor com campanhas de matchfunding.
Para início de conversa, a venda B2B vem do inglês “business-to-business” e ela acontece quando 2 organizações negociam entre si. No caso, pode se tratar da venda de um serviço ou produto da sua ONG para uma empresa ou até mesmo de uma negociação entre a sua ONG e outra organização da sociedade civil.
Para ficar ainda mais compreensível, quando a ONG tem um bazar, quase sempre ela vende para o consumidor final, modelo conhecido como B2C (business-to-consumer), na venda B2B, a venda do produto ou serviço sempre será feita de uma organização para outra.
Você conhece alguma ONG que faz esse tipo de venda? Talvez a sua?
Para conhecer alguns casos e se inspirar, em outubro do ano passado, em parceria com a Fundação FEAC, a Phomenta realizou a
Rodada Social Campinas, em que compartilhou soluções de ONGs da região de Campinas que vendem para empresas. Além disso, o evento contou com a participação de
Luiz Drouet, que falou sobre
capitalismo consciente.
Alguns cuidados que a ONG deve ter em relação à venda B2B
1) Preveja a venda de serviços e produtos no estatuto da sua ONG. Algumas ONGs até optam por criar CNPJ separado, o que é papo para outro artigo, mas se esse não é o seu caso, lembre de incluir/atualizar a venda B2B no capítulo “do patrimônio, fontes de recursos e sustentabilidade” (pode vir com outro nome) do estatuto da sua organização, para não ter problemas com a Assembleia Geral e o Conselho Fiscal.
Veja
aqui modelo de estatuto atualizado conforme o MROC - Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil.
2) Escolha a CNAE (classificação nacional de atividades econômicas) mais adequada.
Se estiver previsto no estatuto que a sua ONG pode vender produtos ou prestar serviços, o próximo passo é
escolher a melhor CNAE para constar como atividade secundária no Cartão CNPJ – já que a principal será sempre a da sua atividade-fim (educação, saúde ou assistência social).
Quando uma venda é realizada e uma Nota Fiscal é emitida - sim, ONGs podem emitir nota fiscal -, o código CNAE é utilizado para informar qual o tipo de atividade foi exercida pela ONG, no caso, estabelecendo assim quais impostos serão necessários pagar.
LEIA:
4 dúvidas mais frequentes no momento de vender um produto ou serviço na sua ONG.
E MAIS!!!
Descubra quais são as imunidades e isenções de tributos que sua ONG pode usufruir.
3) Venda B2B quase sempre vai exigir uma operação à parte da operação da própria ONG. Dessa forma, esteja ciente de que essa estratégia vai demandar equipe própria e fazer uma boa gestão do tempo.
4) Não perca de vista a missão da ONG.
Lembre-se que a venda de produtos e serviços é somente um meio para que a organização cumpra sua missão e atinja sua causa. Caso a ONG abandone seus serviços de interesse coletivo ou social para se tornar somente uma prestadora de serviços para empresas, é o caso de a Assembleia Geral pensar se faz sentido continuar sendo uma organização da sociedade civil.
5) Qualidade sempre será fator determinante. As ONGs que optarem por venda B2B precisam estar cientes de que, a depender do ramo de atividade, vai existir muita concorrência, demandando conhecimento profundo do serviço ou produto comercializado, qualidade e bom atendimento. Por vezes, empresas pagam mais do que pessoas físicas, mas são mais exigentes.
6) A documentação precisa estar sempre em dias! Quando sua ONG vira uma prestadora de serviços de empresas, sobretudo das grandes empresas, ela vira uma fornecedora, exigindo documentação de praxe, algumas diferentes daquelas exigidas por editais e parcerias com o poder público, e preenchimento de alguns formulários due diligence.
LEIA TAMBÉM:
5 dicas para sua ONG começar a gerar receita com a venda de produtos.
Como sabemos, algumas empresas preferem apoiar ONGs doando produtos em vez de dinheiro. Há muitas razões para isso acontecer, desde a política interna, os valores e a cultura de uma empresa, até a maturidade e consciência de um povo em relação à importância da doação em dinheiro.
Mas como tem sido em toda esta série sobre captação de recursos com empresas, vou direto ao ponto:
como podemos aproveitar da melhor forma possível a captação de produtos com empresas?
Antes de tentar responder a essa pergunta, vou trazer um recorte da pandemia de Covid 19 para entendermos a força das doações de produtos: no gráfico abaixo, é possível identificar que 32% das doações registradas pelo
Monitor das Doações COVID 19, doados como resposta à COVID-19, são de produtos (cestas básicas, álcool em gel, máscaras etc.).
É certo que numa situação de emergência como a que vivemos, a doação de produtos fez muita diferença, foi VITAL, mas quem esteve na ponta, na verdade quem está, sabe que falta dinheiro “livre” para para custear despesas que produtos não podem pagar, pelo menos não diretamente. E é aqui que eu começo a responder a pergunta que fiz acima.
O primeiro ponto que precisamos superar, que é o entrave para a imensa maioria das ONGs,
é como chegar até as empresas que doam produtos. Tem empresas doando computadores, materiais esportivos, produtos de beleza, roupas, calçados, comida… pesquisando no Google, você vai encontrar uma grande variedade de produtos que estão sendo doados por empresas.
Para ultrapassar essa barreira, aqui vão três dicas básicas:
1) Mapeie as empresas da sua região, identifique quais produtos fazem sentido para a sua ONG e vá à luta (bata de porta em porta).
2) Pesquise no Google notícias de empresas que estão doando produtos e entre em contato, apresente a história e demanda da sua organização.
3) Use o LinkedIn para criar e ampliar suas conexões.
Uma vez que você tenha conseguido captar produtos com empresas, você tem algumas possibilidades de usufruir desse recurso:
1) Usar como benefício para os funcionários e voluntários da ONG.
2) Destinar/doar para os beneficiários da ONG.
3) Usar como recompensa em campanhas de vaquinha coletiva.
4) Gerar renda com a venda dos produtos.
Nesse último caso, você pode vender por meio de uma plataforma on-line e/ou bazar da organização. Mas atente-se: para todas essas opções, é importante que você verifique com a empresa que fez a doação se é permitido. Em alguns casos, há um contrato entre a empresa e a ONG, indicando o que pode ser feito ou não com os produtos.
Nos últimos anos, muitas empresas também têm optado por doar tempo dos seus funcionários às ONGs, numa estratégia conhecida como voluntariado corporativo.
Para saber mais sobre essa estratégia, acesse os seguintes conteúdos:
Faça também sua pré-inscrição nos programas de Aceleração Corporativa da Phomenta e receba o apoio de voluntários de grandes empresas para ajudar na gestão da sua organização.
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As opiniões manifestadas nos conteúdos de terceiros apresentados neste portal são de exclusividade das pessoas que as manifestaram, não responsabilizando a Phomenta. Todo o conteúdo é orientativo e tende a ser prático, mas recomendamos a procura de especialistas locais para implementação de ações, considerando a realidade da OSC.