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Carla Prates
Há mais de 10 anos atuo na base, ou seja, em uma organização que presta atendimento direto à comunidade. A minha “salinha” de comunicação fica de portas abertas para intervenções de crianças, que querem mexer no kit de canetas especiais e que sempre fazem questionamentos adoráveis do universo lúdico: “Vocês não trabalham”? “Só ficam aí olhando para o computador!”.
E qual o trabalho da comunicação nessa missão intrínseca que temos dentro de uma organização social? No meu ponto de vista, a comunicação está a serviço da transparência. Precisa transmitir o que é feito, como é feito e o quanto impacta o trabalho social realizado. As OSCs transformam vidas e trabalham muito para essa finalidade! Muito mesmo! Isso precisa ser comunicado, valorizado, ressaltado.
A comunicação pode dar voz, mas não elege o que comunicar. Vamos voltar para a base, pensando na construção de uma casa. Primeiro, é preciso fazer a preparação do terreno e, em seguida, a fundação e o alicerce, que são a base da construção e que garantem sua sustentação. No âmbito da transparência, é a mesma coisa: primeiro temos que estudar o terreno e construir as bases, e o ideal é que isso seja feito coletivamente.
Dá para começar ou continuar pensando sobre comunicação e transparência por meio de algumas “bases”: para quem vamos comunicar? O que é relevante comunicarmos em termos de transparência, para cada público da organização (diretoria, comunidade, doadores, parceiros, equipe de colaboradores)?
É a partir do olhar e da percepção do outro que eu me comunico. Partindo do princípio que as OSCs prestam um serviço à sociedade, o que cada público gostaria de saber sobre sua organização? A comunidade, por exemplo, pode querer saber quais os cursos e oficinas oferecidas e quais são os resultados dessas ações para a vida dos beneficiários.
O doador, por outro lado, quer saber como o dinheiro doado está sendo investido. Um estudo feito a partir do Monitor das Doações Covid-19 mostrou a fragilidade de grande parte das OSCs de prestar contas para parceiros. Será que esse doador vai se engajar novamente com a OSC?
Observando as informações disponíveis no quesito prestação de contas, os pesquisadores classificaram as organizações em um ranking de cinco categorias de acordo com o grau de transparência: nenhuma, pouca, parcial, razoável e referência. A maior concentração de OSCs se dá no nível de pouca prestação de contas, com 73 organizações (44%), seguida daquelas que o fazem parcialmente (37 OSCs, 22%). Nos níveis razoável e referência são 49 organizações (que somam 30% do total)¹.
Para entender o que é relevante, consulte o público com o qual você está se comunicando. O que é relevante para você saber, doador? E para o parceiro, para a comunidade, para os beneficiários? E para a diretoria, para a equipe de colaboradores e para os voluntários?
E dá pra consultar todos os públicos ao mesmo tempo? Seria até mais aconselhável, porque, dessa forma, você poderia unir os olhares diferenciados de cada um. Pode ser uma experiência de aprendizado mútuo bem significativa. Que tal reunir beneficiários, parceiros, comunidade, diretoria, equipe de colaboradores e voluntários e perguntar o que eles desejam saber sobre a organização em termos de transparência?
Ah, e qual resposta eu dei para aqueles olhinhos questionadores que entraram na minha sala perguntando se eu não trabalhava? Eu respondi: "sim, eu trabalho! O meu trabalho é usar esse computador pra contar pra todo mundo o que é feito aqui na nossa organização”!
Para saber mais sobre transparência e sobre os critérios de certificação para sua OSC, acesse:
https://www.portaldoimpacto.com/transparencia-por-que-e-importante-para-ongs
https://www.portaldoimpacto.com/entendendo-o-conceito-de-gestao-transparente