Alan Ribeiro, do time de Aceleração Social da Phomenta.
Quando falamos em projetos de inovação social, um dos maiores desafios é escolher, em meio a tantas questões, qual será o problema central que o nosso projeto tentará resolver para gerar o impacto que queremos. Isto acontece porque os problemas sociais ou socioambientais são complexos, como uma teia de causas e efeitos que não sabemos onde começa ou onde termina.
Para ajudar as ONGs neste desafio, este artigo apresenta uma ferramenta simples, porém poderosa, para entender melhor um problema e definir um foco para o seu projeto. Estamos falando da Árvore de Problemas. Antes de apresentar a ferramenta, é importante entender mais a fundo o que é um problema e quais são suas características.
O que é um problema?
Um problema é a distância que existe entre duas situações: a situação real e a desejada. Por exemplo, desejamos que nossas crianças e adolescentes tenham acesso a uma educação de qualidade, mas a situação real é bem diferente e, a partir daí, temos um problema. Agora, reflita: se um problema é a distância entre estes dois pontos, qual seria a solução? Se você pensou que a resposta é eliminar completamente essa distância, isto seria o ideal. Mas, na prática, se conseguirmos pelo menos reduzir a distância que há entre situação real e desejada, já estamos gerando impacto e transformação.
Outro aspecto importante, mais especificamente sobre os problemas sociais e socioambientais, são as causas e efeitos. Todo problema social é causa e, ao mesmo tempo, efeito de outro. Pense no problema da evasão escolar: quantas causas e efeitos há por trás deste mesmo problema? Fica até difícil saber se agimos em uma causa específica, como a de jovens que deixam a escola para trabalhar e ajudar na geração de renda para suas famílias, ou nos efeitos, como jovens que não conseguem trabalhos melhores devido ao analfabetismo funcional. Veja que podemos focar na evasão, na falta de renda das famílias ou na empregabilidade de jovens. Neste cenário é que a árvore de problemas vem para nos ajudar. O primeiro passo, antes de definir um foco de atuação para o seu projeto, é ter uma visão holística do problema.
A Árvore de Problemas
A Árvore de Problemas é um diagrama ou, em outras palavras, um desenho representado por uma árvore, com seu tronco, raízes e galhos. Para entendermos melhor, observe a imagem abaixo.
Note que o tronco representa o problema central que a ONG ou Empreendedor Social quer resolver. Para encontrar este problema, tente se perguntar “qual incômodo o público sente, e o que quero resolver?” A resposta não necessariamente vai demonstrar o problema para o qual vamos direcionar o nosso projeto, mas é um bom ponto de partida. Isso porque uma causa pode vir a tornar-se o problema central, caso mudemos o foco. Mas por que moraríamos no foco? Ao longo da análise do problema, é possível que percebamos que a mudança de foco gere soluções com maior potencial de impacto. Se quiser entender mais sobre mudança de foco/problema central, continue lendo o artigo. Falaremos mais sobre isso na parte Prototipando o Problema.
Abaixo do tronco, temos as raízes da árvore, que representam justamente as raízes do problema. Repare que o problema central tem várias causas e que cada causa carrega consigo outras causas. O exercício de pensar nestas diferentes causas nos ajuda a entender mais a fundo o problema central e, a partir deste entendimento, será mais fácil fazer o recorte de um ponto de dor para onde o projeto será endereçado.
Os galhos da árvore representam os efeitos ou consequências diretas e indiretas do problema. Sabe aquela velha frase: “é preciso cortar o mal pela raiz”? No universo da inovação social, nem sempre é assim. Muitas vezes será mais efetivo atacar o efeito do problema, mas isso dependerá de vários fatores, e não vamos nos aprofundar nesta questão neste artigo.
Prototipando o problema
Provavelmente você já ouviu falar em prototipar soluções. Este conceito nos ajuda quando não sabemos qual é a melhor solução para um problema e, então, em vez de ficarmos discutindo sobre o que pode funcionar ou não, partimos para a prática e testamos pequeno, rápido e barato. Assim, aprendemos o quanto antes com os erros e acertos e, se for o caso, “recalculamos a rota” ou seguimos em frente com a solução testada. Mas o que fazer quando não sabemos em qual problema focar para gerar mais impacto? A resposta é: prototipar o problema.
Não adianta encontrar a solução certa para o problema errado. Sendo assim, devemos também aplicar a ideia de protótipo aos problemas que queremos resolver para descobrirmos quais deles geram mais ou melhores mudanças sociais ou socioambientais.
Vale ressaltar que nem sempre mudamos o foco porque o problema está errado. Não conseguimos resolver tudo de uma vez, então é possível fazer um recorte do problema, testar o impacto a partir do foco escolhido e, depois, fazer novos recortes na busca de uma mudança sistêmica.
A Phomenta, com a missão de gerar impacto positivo fortalecendo as ONGs e seus respectivos Empreendedores Sociais, começou com a ideia de ajudar as organizações na captação de recursos. Com o tempo, percebeu que precisava apoiá-las a ganhar visibilidade e confiança dos doadores e investidores sociais por meio da certificação de boas práticas em transparência e comunicação. Hoje, ainda trabalha em prol destas questões, mas percebeu que a aceleração social também é uma ação efetiva para empoderar as ONGs por meio do desenvolvimento da liderança, gestão e projetos. Perceba que, cada vez mais, a Phomenta foi aprofundando a sua árvore de problemas e prototipando diferentes focos de atuação para aumentar seu impacto.
Prototipar o problema é exatamente isso: olhar para a árvore de problemas da sua organização e fazer um recorte de causas ou efeitos para atacar. Se o problema escolhido não for o melhor, ou se percebermos que há outros que podemos resolver para aumentar o impacto, como no caso da Phomenta, com o tempo podemos revisitar a árvore e tentar propor soluções para outros pontos de causa ou efeito.
Agora é com você e sua equipe! Pegue uma folha de papel e caneta, desenhe a árvore e comece a explorar os problemas, as causas e os efeitos. Escolha um problema central para resolver e teste, teste e teste, até encontrar o melhor problema para focar e a melhor solução para resolver.
Alan Ribeiro, do time de Aceleração Social da Phomenta.
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