Por Graziele França, especialista contábil na WK Sistemas
Em meio a um cenário de pandemia sem precedentes nos últimos anos, o terceiro setor brasileiro viveu um momento histórico: as organizações sociais receberam grandes doações para minimizar os efeitos da crise do coronavírus. Segundo dados do Monitor das Doações Covid-19, em 2020 as companhias privadas doaram cerca de R$6,5 bilhões para ONGs, responsáveis por arrecadar alimentos, equipamentos de proteção individual (EPIs), produtos de limpeza e ajuda financeira para manter hospitais em funcionamento.
Agora, com o ritmo de vacinação crescendo e a pandemia dando leves indícios de melhora, a preocupação é como manter o ritmo de doações. Ainda que nos três primeiros meses de 2021 o valor arrecadado tenha passado de R$1,9 bilhão, no final de maio o crescimento das contribuições começou a desacelerar e se estagnou, o que preocupou as organizações do terceiro setor. Mesmo em um panorama mais estável, a crise deixou um buraco muito grande que ainda vai precisar de muitos recursos para ser tapado.
Então, como retomar o engajamento e seguir conseguindo ajuda? A resposta está na digitalização do setor. Segundo uma pesquisa da Funraise, empresa que desenvolve tecnologias para captações digitais, 55% dos doadores de todo o mundo preferem contribuir online, com cartões de crédito ou débito, transferências, carteiras digitais ou mensagens de texto. A pandemia já deu o
start nessa tendência, uma vez que, com o isolamento social, as ONGs não puderam mais contar com a ajuda de eventos presenciais ou bazares para arrecadar fundos.
A tecnologia também é extremamente importante para as rotinas administrativas da organização, porque há diversos documentos orçamentários, contábeis, administrativos e trabalhistas que geram um volume de papel e de burocracia muito grande. Não faz mais sentido, na realidade atual, ter essas informações impressas ou usar diversas planilhas para organizar as contas. Um bom sistema de gestão é um excelente aliado não só para integrar e automatizar todas as áreas da organização, mas também para gerar mais transparência, celeridade e segurança nos processos ー pontos indispensáveis para conseguir mais patrocinadores.
Outra questão envolve justamente os doadores: a tecnologia acaba tendo um impacto direto na visão que os apoiadores têm da organização. Se um doador se depara com métodos gerenciais ultrapassados e confusos, dificilmente vai se sentir confiante para colocar dinheiro naquele projeto. Por outro lado, processos modernos geram maior credibilidade e atraem mais pessoas dispostas a ajudar.
Um exemplo que ilustra muito bem a importância da tecnologia no terceiro setor é a Aliança de Misericórdia, associação que resgata a dignidade humana por meio da evangelização, de obras sociais e da educação. Com 21 anos de atuação, a organização hoje tem 280 colaboradores contratados em regime CLT, 220 missionários, 30 imóveis próprios, aluguéis, comodatos, mais de 50 veículos e está espalhada por 33 cidades do Brasil e em 7 cidades do mundo. Em relação à receita, 46% das verbas são provenientes de sócios, 38% são de verba pública, 4% de parcerias com pessoas jurídicas e 12% de receitas de lojas e eventos.
Com essa diversidade de frentes de atuação, a Aliança tem um fluxo enorme de informações circulando internamente. São mais de 60 contas correntes, 36 CNPJs e mais de 75 centros de custos, e mensalmente é preciso compilar esses dados para contabilizá-los e fazer o gerenciamento dessa movimentação financeira. A organização precisa prestar contas a diversos órgãos ー como a Secretaria Municipal de Assistência Social e o Conselho Estadual da Criança e do Adolescente ー, às pessoas jurídicas e físicas com as quais tem parceria, aos doadores e aos sócios. Tudo isso precisa ser feito de forma segura e transparente.
Seria impossível dar seguimento a estes procedimentos sem um bom sistema de gestão empresarial (ERP) para apoiá-los. Os 75 centros de custo, por exemplo, são divididos entre os custos administrativos, sociais, de educação e de evangelização. Com o ERP, a associação consegue contabilizar todas as receitas e despesas individualmente e acompanhá-las dentro de um plano de contas. A prestação de contas para auditoria e para os conselhos fiscal e consultivo é feita inteiramente com base nos números extraídos do sistema.
No mundo corporativo, é impossível crescer sem boas parcerias. No mundo das organizações sem fins lucrativos, também. Ser transparente e ter celeridade e segurança nas operações é muito importante, mas não basta entender isso apenas no conceito. Os reflexos da pandemia vão continuar por muito tempo, e é urgente que as ONGs se digitalizem e busquem parcerias tecnológicas para continuar fazendo seu trabalho, que é fundamental para a sociedade.
Por Graziele França, especialista contábil na WK Sistemas
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