Por Sara Dias
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8 de novembro de 2024
Escrever em um diário, em um bloco de notas ou em pedaços de papel. Essas são algumas formas de se praticar a expressão emocional escrita ou escrita terapêutica, que tem como objetivo nos ajudar a lidar com pensamentos e sentimentos difíceis de processar. “É escrever para você e sobre você”, afirma James W. Pennabaker, Ph.D em Psicologia Social e professor da Universidade do Texas, que foi o criador desta técnica, na década de 1980. Nesse processo, de transformar sentimentos e emoções em linguagem escrita “integra-se em si, aspectos cognitivos e emocionais, oferecendo uma oportunidade para aumentar o insight (ideias), a capacidade de autorreflexão, e a organização da perspectiva da própria pessoa sobre os eventos, em contraste com a simples revelação de sentimentos e emoções de forma espontânea”. Ela pode ser usada como um alívio, um desabafo ou uma ferramenta de auto expressão que pode aumentar a sensação de bem-estar, melhorar os relacionamentos, reduzir sintomas de insônia, depressão e distúrbios psicossomáticos, melhorando a saúde física e mental. A escrita e a Saúde Mental no Terceiro Setor Gerenciar o estresse é algo com que lidamos todos os dias. Buscamos exercícios, ferramentas e até ajuda profissional para perpassar situações que nos geram angústia e dor emocional. “O que sabemos é que reprimir emoções pode levar ao sofrimento psicológico e, como a escrita é uma forma segura, gratuita e confidencial de extravasá-las, ela acaba sendo uma excelente ferramenta para trabalhar essas emoções”, defende o Instituto Ame Sua Mente. Estudiosos da área da psicologia, têm validado o uso da escrita como uma dessas ferramentas eficazes que podemos chamar de “Estratégias de enfrentamento em Saúde Mental” ou “Coping”. Sua utilização se encaixa na categoria adaptativa, que correspondente ao enfrentamento com foco na emoção, onde se realiza o fortalecimento do autoconhecimento e autocontrole emocional. Se você deseja saber mais sobre o Coping, veja esse artigo do Portal do Impacto . Neste texto sugerido, podemos observar como tem sido a utilização deste tipo de estratégia, com foco na emoção, por profissionais do Terceiro Setor, para cuidar de sua saúde mental, em contextos com variados aspectos estressores, como a alta demanda de trabalho, a escassez de recursos e a gravidade das causas sociais atendidas, sem que se tenha uma perspectiva de mudança, a curto prazo, das circunstâncias disparadoras dos sintomas de estresse. Dessa forma, a pessoa se fortalece mentalmente e emocionalmente para permanecer na situação até que as circunstâncias mudem ou que ela possa sair da mesma. Os benefícios de exercitar a escrita terapêutica Dados de um estudo publicado pela revista Advances in Psychiatric Treatment (Avanços no Tratamento Psiquiátrico), em 2005, e publicado de forma on-line, pela Universidade de Cambridge, no Reino Unido, revelou uma ampla pesquisa sobre o tema. De acordo com o artigo, os pesquisadores descobriram que os indivíduos analisados que escreveram sobre seus eventos traumáticos, situações de estresse ou qualquer situação que tenha provocado emoções fortes durante 15 a 20 minutos, de três a cinco vezes por semana, conseguiram superar com maior facilidade esses acontecimentos do que aqueles que não escreveram. A razão é que a escrita potencializa o entendimento e integração desses traumas, gerando amadurecimento, ao invés de neuroses. Em seu livro “Escrita Terapêutica - um caminho para a cura anterior”, de 2021, a autora Bruna Ramos da Fonte, defende: “São muitos os estudos que comprovam a eficácia da escrita no processo de recuperação emocional e psíquica do ser humano. Isto porque, ao escrevermos para nós mesmos, temos a chance de deixar de lado os nossos medos e defesas para então expressarmos aquilo que estamos realmente pensando e sentindo”. Concordando com Bruna, a psicóloga Stephanie Barbosa, ao escrever sobre a escrita terapêutica para a plataforma de saúde mental corporativa “Telavita”, cita seus inúmeros benefícios: Redução de sintomas: Ajuda a diminuir sintomas psicossomáticos relacionados à ansiedade, depressão e insônia, promovendo um maior bem-estar físico e emocional. Melhora no enfrentamento de situações difíceis: Facilita o processo de lidar com traumas, ao mesmo tempo em que aprimora a gestão das emoções e a capacidade de tomar decisões. Aprimoramento cognitivo: Contribui para a organização dos pensamentos, clareza das ideias e melhora da comunicação assertiva, além de estimular a criatividade. Ampliação da percepção: Amplia a percepção de si mesmo, dos outros e do mundo ao seu redor, promovendo uma compreensão mais profunda das experiências e relações. Como fazer? Prefira o papel: A prática da escrita terapêutica pode ser utilizada em qualquer pedaço de papel à sua disposição, e apesar de algumas pessoas utilizarem meios eletrônicos para esta finalidade, como bloco de notas ou blogs, o uso artesanal da escrita mostra-se ainda mais benéfico, pois mais regiões cerebrais e corporais são utilizadas, do que na digitação. Seu movimento rítmico e repetitivo também pode gerar um efeito calmante e relaxante. Construa um Diário: Para um exercício constante desta técnica, sugere-se a utilização de um diário, onde a revisitação dos registros anteriores se torna mais fácil. Dessa forma, suas jornadas emocionais podem ser guardadas permitindo revisitar o progresso e o crescimento pessoal ao longo do tempo. Utilize a associação livre de palavras: Exercite escrever de forma espontânea, sem censura, registrando tudo o que vier à mente, sem se preocupar com coerência, lógica ou estrutura textual. Crie uma frequência: Sendo realizado com frequência (diário, semanal etc) esse fluxo de palavras pode revelar temas recorrentes ou preocupações que não são facilmente acessíveis em uma escrita mais consciente, proporcionando uma visão mais clara do estado emocional e mental da pessoa, aumentando sua autopercepção e seu autoconhecimento Separe um tempo e escolha um bom espaço: Sempre que possível, escolha um espaço para sua escrita que seja silencioso e bem iluminado, em um momento em que você não será interrompido com frequência ou terá distrações. Vale lembrar: A prática da escrita terapêutica, apesar de seus benefícios comprovados pela ciência, não substitui a psicoterapia tradicional. Ela pode ser usada como uma abordagem complementar, de autocuidado, a fim de proporcionar mais clareza mental e autorreflexão, auxiliando no desenvolvimento do autoconhecimento e no processo de lidar com momentos difíceis. Quer ler mais sobre Autocuidado? Então, confira também este texto do Portal do Impacto sobre o tema: https://www.portaldoimpacto.com/autocuidado-a-historia-do-termo-no-campo-social-e-da-saude REFERÊNCIAS Baikie KA, Wilhelm K. Benefícios emocionais e físicos da escrita expressiva. Advances in Psychiatric Treatment . 2005;11(5):338-346. doi:10.1192/apt.11.5.338. Disponível em: https://www.cambridge.org/core/journals/advances-in-psychiatric-treatment/article/emotionaland-physical-health-benefits-of-expressivewriting/ED2976A61F5DE56B46F07A1CE9EA9F9F Barbosa, S. (2024). Saiba mais sobre a técnica da escrita terapêutica. Site Telavita - Disponível em: https://www.telavita.com.br/blog/escrita-terapeutica/#:~:text=A%20escrita%20terap%C3%AAutica%20%C3%A9%20uma%20t%C3%A9cnica%20criada%20por%20James%20W,autoconhecimento%20a%20quem%20a%20pratica Ramos, B. (2021) Escrita Terapêutica - um caminho para a cura anterior. Editora Letramento.